quarta-feira, 15 de julho de 2015

a história de Bê e Jô.


assim que começou.
ele entrou.
ela já estava lá.
não se cruzaram, não se viram, nem cruzaram o olhar.

assim estavam, distantes.
seus corpos vibravam energia
emanavam calor

então ficaram perto.
então saíram dali.
mesmo estando ainda no mesmo cômodo
o incômodo se desfez porque não estavam mais lá.

próximos.
perto.
orbitando.

um ao outro.

a atração do desconhecido,
do nunca visto,
do novo,
da mudança,
do que intriga,
daquilo que desperta interesse.

assim, sem jeito, confortáveis.
aconchegados em seus desconfortos.

a timidez que se diluí na tentativa,
que se esvai na ação
e se perde no ato a ser consumado.

a consciência da mutualidade da situação os abraça
fazendo com que se juntem

a reciprocidade do desconhecido, liga.

conectados. e ainda não se tocam.

palavras nunca foram pronunciadas entre eles.

o silêncio é sua mais pura forma de comunicação
ao atingirem esse ponto.
essa estranha intimidade de estranhos
os torna livres de palavras.

essa liberdade do verbo expõe seus corpos,
ficam frágeis pois os lábios perderam suas funções

não supérfulos.
não vestigiais.

lábios livres de palavras.

entreabertos,
a respiração é o que os separa,
é o que os toca, ainda sim, o ar falta.

aproximam.

desajeitados, com graciosidade de quem está aprendendo pela primeira vez,
eles se encostam.
os lábios.
a respiração cessa.
o ar nao entra.

texturas se tocam,
temperaturas oscilam
e a troca acontece.

lábios que perderam sua função de articular palavras,
foram esse os primeiros a beijar.
eram esses, Bernando e Joana,
estranhos que se conheceram, se olhando.
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recomendação de trilhar sonora para a re-leitura do texto.
https://www.youtube.com/watch?v=TP9luRtEqjc
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